segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Choro

Eu sei. Tenho sido só choro nesses últimos tempos. Tento voltar aqui para a Alegria do Blog mas meu coração chora entrecortado pelas notícias despedaçadas. Me sinto feito papel que se desfaz na água e não sabe mais como virar inteiro de novo. Me sinto chuva inundando a mim mesma e é tanta a dor represada no peito que tudo transborda. E as lágrimas me desinundam.

Sei que todo mundo tem a sua hora de ir embora. Mas quando alguém que você ama muito tem o seu tempo reduzido é preciso resignificar a morte. Porque a que carrego em meu peito parece ser pesada demais para me adequar a esses novos ventos.


Percebo a dor nos olhos dos outros, o choro contido e escondido de cada um. A negação e a não aceitação de alguns. E sempre choro junto.

Quem sabe... Daqui a pouco viro rio.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lua negra

Meus pés afundam nos pântanos de uma realidade sombria. Ninguém deseja a fatalidade ou a dor profunda de uma notícia sem volta. Sim, foi muito doloroso meu aniversário. Como queria que fosse como antes!

Ainda assim nas frestas do peito busco um vazio, um cantinho qualquer em que a alegria possa se adentrar. E é na dança, no samba de raiz, no requebrado do pé, dos quadris e no movimento vibrante da música que tenho buscado um sopro de vida. Pois meu coração parecia mais morto do que nunca.

A dança me traz a cor de volta ao rosto.

O mar, o sal, o sol me consolam mais uma vez.
É lá que respiro.

E você,
você me traz esperança de novos vôos:
de aventura a dois, de leveza da lua, de ventania na noite,
de abraço firme, de troca sem palavras.

De lua negra virando crescente.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tela em branco

É duro. Duro saber que mais um aniversário se aproxima e que você talvez não vá lembrar. Mas não importa mãe. Vou estar ao seu lado te lembrando da vida que você me deu.

Olho ao redor e percebo uma família que se des - pe - ta - la (cada um da sua maneira). Já me despetalei mãe, diversas vezes nesses últimos dias e noites insones de montanha russa. Mas já sinto novas pétalas crescendo. É assim a natureza.

Sei que daqui para frente há montanhas a serem escaladas. Sei que não vai ser fácil (e já não está sendo). Mas não quero olhar só o desafio e sim a vida: pois você escolheu a Vida quando apesar de tudo resolveu ficar. E que bom mãe, poder ainda pegar na sua mão e sentir o cheirinho dos cremes que você adora passar na pele. Que bom poder te abraçar, beijar e ficar do seu ladinho.

Antes não tava bom para você, não é? Sentia sua fragilidade, seu choro e era insuportável não poder tirar o vazio do seu peito.

Quem sabe agora não nasce um novo jardim para você? Novas árvores, flores, pássaros. Do jeito que a sua imaginação de criança queria pintar. Vamos plantar juntas mãe. Essas sementes de orquídeas, girassóis, lírios, flores do campo...

Vamos pintar juntas. Te dou a tela em branco e você faz arte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Carta a minha mãe


Mãe,


Você quase foi embora. Quase deixou esse seu jardim de flores e heras ressacadas. Eu sei, você não queria mais um jardim morto e chorava por um recomeço. E eu choro junto mãe. O seu pranto é o meu pranto. Sempre enxerguei a sua dor.


Na sua ausência, mãe, me vi criança novamente. As memórias voltam como um rio: meu irmão e eu, crianças, correndo na praia ao seu redor, os nossos pulos em cima da cama, as nossas brigas que te tiravam do sério, as viagens de carro enrolados no edredon, as brincadeiras cheias de gritos e cantoria.

Eu não sei bem se você já voltou mãe. Te sinto frágil entre homens de branco e uma família entristecida.
Será que você volta?
Onde você está?


Sei o quanto a vida aqui era escura para você. Nem mesmo o verde e as flores (que você tanto ama) eram capazes de trazer o seu sorriso.

Sinto você criança. Sinto você em outro mar. E quem sabe? O mar do seu mundo pode ser mais turquesa que o nosso. Quem sabe esse mar não te ajude a ver o azul?


E o Sol mãe. Como queria que você pudesse sentir o Sol junto comigo.

Mãe, aonde quer que esteja sente o meu amor,
sente o nosso amor por você.

É ele que traz cor a vida.
Sente, mãe.

Namoro de Criança

Como foi bom esse reencontro.
Cheio de mar (na pele), sol no sorriso.

Me lembrei daquelas festas de menina
que tocavam música lenta (e dava um frio na barriga!),
das brincadeiras na escola e dos namoros.


Ah! Os namoros de criança! Que lindo!
Era simples ser feliz.

Tento resgatar essa criança que fui.
Ela sabe mais sobre a alegria de amar.

Me ensina, criança, a amar com leveza,
a ver os girassóis
e a voar (sem pressa) por entre as pétalas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Trecho do "O Poder do Agora"

Nos momentos dolorosos lá vou eu atrás de um de meus livros de cabeceira: "O Poder do Agora" do Eckart Tolle. Outro dia sentia uma dor profunda e um trecho desse livro me ajudou a melhorar muito essa dor com um simples exercício de presença e observação. É mais simples do que imaginamos! Por isso, transcrevo essa parte aqui para ajudar qualquer pessoa que esteja em um momento difícil:

"Concentre a atenção no sentimento dentro de você. Reconheça que é o sofrimento. Aceite que ele esteja ali. Não pense a respeito. Não permita que o sentimento se transforme em pensamento. Não julgue nem analise. Não se identifique com o sentimento.Esteja presente e observe o que está acontecendo dentro de você. Perceba não só o sofrimento emocional, mas também a presença "de alguém que observa", o observador silencioso. Esse é o poder do Agora, o poder da sua própria presença consciente. Veja, então o que acontece."

Eckart Tolle

Pássaro

Hoje o Girassol de dentro voltou a abrir suas pétalas.
E que falta lhe fez o Sol.
Ela busca o Sol fora na tentativa
de encontrar o Sol dentro.

Depois de dias chuvosos que afogavam a sua alma,
o pássaro amarelo ressurgiu.
E ela não resiste ao canto do pássaro:
"
É tempo de voar."

sábado, 6 de novembro de 2010

A Borboleta fecha as asas

Queria que cada um de nós saísse desse relacionamento
como borboletas a buscar suas novas flores.
Mas você preferiu mostrar o seu lado sombra:
"Quero sair por cima. E para isso Preciso te Ferir."

Que triste... Eu, borboleta, fechei as asas e senti que
escolhi o caminho certo. Voei para longe.

Essa borboleta que bate cá dentro do peito

prefere o amor, a sutileza e
a música que toca nas profundezas das flores.


No silêncio é possível escutar o canto das pétalas.
Busco o canto no silêncio.

É difícil no começo quando o coração está choroso.
Mas quando o pranto seca,
lá está a música que me abraça.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cinza



Virei cinza com você. Como é que pode?
Sempre achei que duas cores vivas
ficariam mais vibrantes juntas.


A relação com o outro é soma.
Mas quando vira tempo escuro de nuvens cerebrais,
carregadas de "não" e "esse é o jeito certo",
sinto que é minha hora de voar.

Eu me pergunto...
Cadê aquela mulher de sorriso no rosto e estrela no olhar?
Cadê a leveza, a dança e a alegria que antes me visitavam?

Perdi a cor. Será que me perdi de mim?

Terminar dói.
Só que dói menos do que ser cinza.

Não gosto de fim.
Sou de começos.
De frutas que brotam na terra,
De flores que desabrocham.

Quero ser cor de Aurora.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Triste



Meu coração se aperta. Mais uma vez...
Ele tenta achar uma janela, uma fresta de ar
mas só encontra paredes.


É coração... Já tem um tempo que você anda triste, cabisbaixo.
Nem o choro mais você contém.
Eu sinto a sua dor, a inflamação no peito.

Tento rir da dor e digo: ela passa.
Dor de amor...
E quem mandou ser coração tão frágil?


Você tinha medo que esse amor fosse como onda do mar.
Mas ninguém segura o mar.

E do que adianta dizer que se tem um amor
e sentir-se tão sozinho?
Sentir-se nadando contra a corrente
enquanto você quer deixar-se fluir.


Coração, vou te embalar em meus braços com canção de ninar,
te darei beijos de beija-flor até que
a sua flor (tão murcha agora)
volte a cantar.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Meu irmão

Para Tomás

Outro dia mais uma pessoa veio me perguntar:

- Será que seu irmão gostou de mim? Me achou legal?
E achei engraçado lembrar que durante minha vida ouvi essa pergunta dezenas de vezes. E porque será que as pessoas querem que o meu irmão goste delas? Simplesmente porque ele é daqueles caras que o coração mal cabe dentro do peito de tão grande! É claro que ele tem um talento para desenho e criação sem igual e tem gente que o admira por isso. Mas o que faz tanta gente querer estar perto dele é o seu jeito amoroso e vivaz de ser. Você está ao lado dele um dia e sem saber porque começa a se sentir tão bem! He, he, he!

Então irmão, continue sendo você desse jeito único: engraçado, cheio de entusiasmo, de idéias, de sensibilidade, de alegria, de desenho, de criatividade, de sonhos, de afeto, de amor que transborda e contagia os outros.

Eu amo você!

E desejo sempre te ver com estrelas nos olhos,
mãos pintadas de cores e sonhos que voam.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Girassol



Queria ser Girassol de pétalas sempre viradas ao Sol.

E o que faz o girassol a Noite?
Se esconde? Aquiesce?

Mesmo a flor do Sol passa pelo negrume.

Nas vicissitudes do amar queria ser somente beija flor:

leve, cor suspensa no ar, flor de asas.

Mas quando vem o cinza, a intempérie do amor,

eu esqueço o beija-flor.
Como é frágil o coração.
Algumas palavras são suficientes para
deixá-lo cabisbaixo, sem canto.
E porque a pessoa que te canta melodias
logo te fere com palavras ásperas?

E porque esse amor a dois oscila entre preto e branco?

Eu adoraria escolher o branco.


Só o branco.


Ando em busca de um amor de mar turquesa, de águas macias.

Aquele Amor de letra maiúscula
que transcende as mágoas, as sombras, a noite.


Num mundo de dia e noite como encontrar um Amor sem noite?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Pérola

Pérola encantada, pérola interna te busco sem fim
e ainda se me esvai feito borboleta.
Nos altos e baixos dos sentimentos tento te descobrir, te descolorir.

Te busco Centro, Cor Amarela e Viva.
Me tira do tédio e me revela o teu encanto.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Flor Gerbera

João revelou a ela que seu amor era como a flor gerbera.
Mas ela não deu atenção. Nem ternura.

As pétalas da gerbera foram caindo,
até que do amor-flor de João só sobrou o miolo.


Um amor despetalado.


Será que ela não sabe que dói em mim tanto o quanto dói nela?
E que há em mim sonhos repletos de pássaros, vôos e entrega?

João murchou...

E esperou o vento trazer novas sementes.

sábado, 4 de setembro de 2010

Beleza

Sentia-se plena ali: os pés afundavam na areia, as ondas brincavam entre suas pernas, o sol acariciava o seu rosto e o vento (ah! o vento) ouvia seus lírios.

O verde esbranquiçado do mar a fazia lembrar de sonhos distantes, da essência azul que tanto buscava. Assombrava-se diante da beleza inefável que os olhos ouviam e se perguntava porque não podia perceber tal beleza por todos os segundos de seu respirar.

Perdia-se no mar, virava onda e redemoinho. A água amaciava as tristezas.

Queria fluir como o mar

domingo, 22 de agosto de 2010

A Nossa Dança

Gosto do seu abraço de Sol. Você derrete qualquer frio interno e transforma a minha neve em rio.

Gosto de estar entregue em seus braços, de me enroscar em você no meio da confusão de travesseiros, cobertas e brancos.

Acordar e dormir do seu lado faz de mim sorriso encantado, borboleta a sonhar no céu infinito.


E na nossa dança... como sou feliz na nossa dança: cheia de rodopios, passos repentinos e estrelas cadentes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Relacionamento

O relacionamento íntimo com o outro me transforma. As feridas do outro esbarram nas minhas e trazem a tona minhas partes ocultas.

Algumas revelações não são nada agradáveis.

De onde vem essa dor?
Esse medo que achei que já havia ultrapassado?
E essa insegurança que invade tudo?


O amor a dois me faz leve, tênue e sombria. No amor, um vai revelando e descobrindo a si-mesmo e ao outro.
Ou será que é apenas a si-mesmo?


O medo da entrega é latente, afinal não há controle.
Há só o viver, o experimentar-se através do outro.

Se o amor me faz renascer, eu mergulho sim em suas labaredas
e me faço pássaro da lua, mutável e repleto de fases.

Lua nova
Lua negra
Lua dócil
Lua sorriso
Lua plena.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Bailarina


Pintura: Degas

Tem dias que dói. Dói o corpo, dói o peito.
E chove dentro.
Inunda tudo.

Nesse sobe e desce, nesse vai e vem,
ela busca um equilibrar mutante.
Tenta ser artista de circo e cai da corda bamba.


Quando menina ela queria ser bailarina,
sempre nas pontas dos pés,
de saia de tule rodada e sempre, sempre rosa.
Era seu mundo mágico.

A bailarina que ela é hoje quebra as pontas da sapatilha,
escorrega e muda de cor feito arco íris.


E ela - essa bailarina - dança e dança...
em busca de cura que a faça plena;
de luz incessante que a faça girar;
do verde-folha de dentro que acalma;

de um olhar que a decifre;
de um sorriso que a acolha;
de um encontro que nunca acabe.

De um eterno que dure.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Mar

Quanta melancolia entreguei a essas areias
E quanto pranto secou esse mar.
Sou assim nessa praia:
criança de colo,
consolo nas tranças do vento
aconchego no Sol.

O Mar! Ah o Mar!
Me - nina com canção de ninar
O mar me dança.
Lamento, suplico,
Me escondo.
Me escuta!

Te ouço e te entrego

meus segredos
meu pesar


Guarda o meu silêncio.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Onda que vem... Será que vai?

Sim, tenho medo. Medo de te mostrar a intensidade carmim de meus sentimentos. Sua voz é suspiro, arrepio na pele. Seu beijo me descompassa. Sei que gosta da fala clara e direta, mas sou assim: repleta de noite e mistérios.

Não vê que me afogo em seus olhos de mel? E me desmancho em seu toque? E que na nossa dança (você me enganou, seu dançarino!) me entrego tanto que me perco?

Sei que por vezes viro criança, insegura e boba.Tem noites que prendo as lágrimas e me finjo forte. E me faço rebelde para esconder a fragilidade e o despedaçar do peito.

E se você for onda que me envolve e logo se desfaz?

Onda
, fica comigo, no vai e vem do nosso mar. Vamos nos transbordar de espuma e tons.

Derrama em mim a firmeza dos seus passos, a doçura dos seus gestos, o seu balançar.

Me inunda com a sua ginga, a sua arte e o seu Sentir.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Meu Jardim

Cresci entre palavras duras, ásperas. Nunca sabia quando elas viriam, assim feito espinhos, prontas para ferir. E aprendi que não queria plantá-las em meu jardim. Preferi as margaridas, flores do campo e lírios.

É engraçado porque a pessoa que me ensinou a amar poesia, ainda pequena, até hoje esquece de utilizar essa poesia em seu cotidiano. E de que serve o belo ou a sutileza das palavras quando nos esquecemos deles em nosso dia a dia?


Em meu jardim planto:
cantos de amor, vôo de pássaros e o elevar da borboleta.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Alegria



Que eu possa ser Sorriso entre olhares cabisbaixos,
Canto de pássaro amarelo que alegra a manhã cinza,
Dança que diz: sim! Sente a vida dentro e fora,
As cores quentes e verdes da feira,
Mão que acaricia,
Palavra com sabor de jabuticaba.


No medo, na dor,
na tristeza... na escuridão,
Que eu possa ser flores que aliviam a alma,
Nuvem que abraça o verso,
Brisa que levanta o ânimo e susurra: alegria!

Que eu possa ser amor de céu em pequenos gestos,
Risada presente que contagia,
Júbilo infinito que alumia.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Adolescente em festa



Nas festas, depois dos jogos do Brasil (na Copa do Mundo) eis que ressurge a minha adolescente, que há tempos andava adormecida. Porque essa minha adolescente era pura emoção e alegria nas festas. E ela lembrou-se de Copas do Mundo e festividades passadas e despertou. Algumas pessoas próximas reclamavam e diziam que aquele mesmo lugar já havia sido melhor, porque quando eu era mais "nova" isso, aquilo e aquilo outro...


Mas a minha adolescente nem deu ouvidos:

E cantou para a lua cheia que iluminava seus cabelos; dançou o samba que se formou no meio da rua, cheio de tumulto, instrumentos e sons inesperados (o trompete foi para ela a sensação da noite); sentiu a alegria de tanta gente e sorriu branco como a lua; sentiu a criatividade daquelas pessoas cheias de melodia na alma e dança colorida no pé; regojizou-se nos pulos e cantar dos outros; percebeu as blusas amarelas perdidas nos verdes e abraçou aqueles que abraçavam o momento.

Essa adolescente, cheia de intensidade, livre, espontânea, vive os momentos de festa com leveza e êxtase, sem o pesar do tempo...

Ela sabe que os ventos permanecem na Terra enquanto a gente se esvai num respiro incerto.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Avesso

Não e não! Ela não iria deixar de viver os seus sonhos para "se adequar" a sociedade. Preferia a autenticidade dos artistas, a originalidade das crianças e a fé dos santos mesmo quando a chamavam de louca.

Preferia andar pelas frestas e sombras buscando o avesso ao invés de seguir o "caminho comum" feito ovelha. Sabia que seria difícil para a família, pois seria vista como excêntrica. Mas não tinha jeito, nada dessas promessas do mundo externo a seduziam mais. Aprendera a viver no momento e por isso sentia-se fora do mundo.


Tinha encontrado o sorriso real (aquele que independe de circunstâncias externas) e por isso acolhia o tear da vida e cantarolava, espalhando sua fragância alegre independente do tempo, dos humores alheios e dos tons do dia.

Sentir... sem pensar



Ela queria dizer-lhe da intensidade de seus sentimentos. Mas havia aprendido a conter as suas pulsões. Ensinaram-na, quando pequena, que sentir era arriscado. Pois bem! Tentava esconder-se de si mesma.

Uma noite, sentada ao seu lado ferveu por dentro - feito panela de pressão - e não podendo mais conter a ressaca, tascou-lhe um beijo perto dos lábios.

E enrubesceu.


Ele, surpreso, convidou-a para dançar.
Dançaram sem por quês, sem amanhãs.


Entregaram-se aos entrelaces das pernas, aos gestos suaves dos braços, aos movimentos redondos e firmes... e aos desejos contidos que se expressavam na dança.


Ele sentia o contato com o corpo dela e percebia a sua nuca nos segundos em que os cabelos esvoaçavam.

Ela sentia o seu cheiro, o seu rosto e não conseguia conter o tremor que lhe percorria o corpo.

Uma pausa na música a fez subir uma das pernas até os quadris dele e ele furtivamente beijou-a, sem dar espaço ao pensar.

Perderam-se na intensidade do momento.

E assim, sem pensar, deixaram-se levar pela música, pelo fluir da dança e pelo sentir que emanava feito arco-íris de mil pétalas.

Pintura: Drue Kataoka

terça-feira, 8 de junho de 2010

Margarida

Julia queria dizer-lhe o quanto era vidro de cristal.
Não chegue tão perto! Posso quebrar...
Ou seria ela areia que escorre entre os dedos?

Queria perder-se no céu de seus olhos,
mas receava deixar as margaridas.

As margaridas traziam-lhe o alívio do branco.

E no entanto, não era o branco todas as cores?

Ele era fulgor alumiando a noite.
Ela, margarida.

Deitou-se ao seu lado
e coloriu o seu branco.

Mãe Divina

És Melodia das nuvens
Bater de asas de pássaro
Suspiro que me arrepia

Sol que me acende,

Derrama-se sobre mim
Inunda-me em seu vôo interno

Lírio,
faz de mim o seu néctar
Deixa-me ser o seu Sorriso
a cintilar sobre as sombras do mundo.

domingo, 30 de maio de 2010

Encontrando o Espaço Interior

Outro dia uma amiga estava em crise por estar ficando mais velha. Então pensei que a cada ano que passa tenho me sentido melhor. É como se a idade estivesse me deixando mais leve feito folha ao vento.

Quando criança nem a minha roupa escolhia! E quem disse que é fácil ser criança? Tive momentos claros e coloridos. Mas outros foram escuros e vermelho sangue. A questão maior era não conseguir expressar e traduzir os meus sentimentos de dor, tristeza, raiva, solidão. Na adolescência tudo era tão intenso e incerto. Ficava buscando um rio a seguir, uma solução externa para meus conflitos internos.

Hoje sei que não existe uma solução externa ou algo de fora que vá solucionar todas as minhas angústias e anseios de dentro. Então, busco a harmonia interior. É fácil? Claro que não! É uma busca de vida. Mas gostaria de falar para vocês sobre o espaço interior com o qual tenho conseguido me conectar todos os dias (alguns o chamam de Ser). O contato diário com esse espaço interno me dá energia (sinto sensação física de calor mesmo), bem estar, paz e alegria.

Consegui achar esse espaço de paz interior quase sem querer lendo o livro "O Poder do Agora." O mais incrível é que não estava em posicão de lótus ou emanando mantras ou nenhuma coisa parecida ao achar esse espaço de presença e serenidade. Na verdade, nessa época eu nem meditava por não agüentar ficar cinco minutos sentada na mesma posicão! Estava simplesmente lendo esse livro ("O Poder do Agora" de Eckart Tolle) em um café quando a transformação interna aconteceu e desde então minha vida não foi mais a mesma.

Compartilho isso aqui porque se aconteceu comigo de uma maneira tão simples tenho certeza que muitos outros podem achar também esse espaço do sol interior. Ele está tão perto da gente, basta querer encontrá-lo.
E desejo sinceramente que cada vez mais pessoas possam achar essa estrela plena. Sinto que muitas pessoas estão no automático e que perderam o contato com a essência que dá sentido a vida. Percebo tantos olhares perdidos e vazios. Como gostaria de poder fazer brotar uma era de alegria em cada um desses corações murchos. Só que não tem jeito, a pessoa tem de buscar por si mesma esse espaço de que falo para vocês agora. Mas ele existe!

Ainda tenho problemas e desafios como todo mundo, mas o contato com esse espaço de presença interior facilita (e como!) os pesares da vida. E por isso termino com uma frase que um professor querido sempre me escreve: "a paz começa comigo".

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Estrela de Belém




Flor Estrela- de -Belém, mais conhecida como
a famosa essência floral de Bach, "Star of Bethelem", que cura
traumas, dores e tristezas. Não são lindas?


O nosso amor foi como a flor Estrela- de- Belém: estrelado e branco. E repito, mais uma vez, que você foi brisa suave em minha vida, pois brisa quente vindo do mar acolhe, abraça e ama com carinho.

Você foi riacho aguando o meu pesar, lavando meus por quês e e serás. Com você vivi o momento e apesar de ter partido como onda do mar, as lembranças de você são de: cores,
jabuticaba(!), alegria, leveza, pulo de carnaval, beijos, brincadeira, afeto e... brisa.

Estrela de Belém - que alivia as maiores tristezas- possa você expressar seu olhar terno e sua fonte de brancura a outros sorrisos.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Flores do Norte

Para Natasha, Luluca e Tomás

Dessa vez foi doce o borboletear naquela Terra do Norte.
Apesar do frio tempo, só sentia calor e ternura junto a Luluca e seus pais.

E mais uma vez suspiro: que lindo é o amor desses pássaros. E que sorte a minha de fazer parte (mesmo de longe) deste ninho.

Minhas flores do norte, amor como o de vocês é
quase de outro mundo, sabia?


É cometa e infinito; água branda que aclara; gesto que acolhe.


Perto de vocês, sinto-me inebriada de amor e volto para essa Terra do Sul com aroma de bolo quentinho, recém saído do forno.

E apesar da distância (e da saudade), levo comigo a música, a flor, e o aroma de bolo quentinho (de vocês) bem guardados no peito.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A menina e a chuva


ilustração: Irizs Agocs

Quando chovia, Aninha levava seu guarda-chuva para fora de casa, colocava-o de cabeça para baixo e ficava lá guardando a chuva.

Afinal, não é essa a função de um "guarda-chuva"? Os adultos não entendem nada, pensava ela. A chuva para Aninha era mistério, água que desfaz e refaz o mundo.

Sentia a água tocar seu rosto e amarrotar os seus cabelos. Não tinha medo da chuva. Gostava do tremelicar das gotas em sua pele.

Depois de guardar um tanto de chuva, chegava perto para escutá-la. A chuva escondia segredos que Aninha ouvia com os olhos. Ria ao ouvir histórias de outros ventos e estrelas. Por vezes se emocionava com as histórias de outros olhos.

No fim, sentia a ausência da chuva... e tentava redescobri-la no tintilar de gotas das árvores, telhados, frestas e nas águas guardadas do caminho.

Na chuva sentia-se perto do céu.


terça-feira, 20 de abril de 2010

João e Julia

João queria conhecê-la do avesso, revirá-la por dentro.
Que vento és tu?
Que nuvem te desperta?
O que faz rir teu coração?

Para Julia, João era poesia, canto inesperado.

Julia era o mistério e João o vazio.

De qual flor vem o teu néctar?
Qual a cor do teu sentir?
E Julia sorria.
Gostava de sentir a respiração de João sobre seu peito.

João acariciou-lhe o rosto.
Fitaram-se...

e mergulharam um no outro.

O silêncio falava mais que a palavra.

No silêncio, um sonhava o outro.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Delírio



Já disse aqui o quanto gosto de dançar a dois. Dançar a dois pode ser (por vezes) pouco criativo para a mulher, afinal quem conduz a dança é o homem. Cabe a mulher se entregar feito flor do vento.


Outra noite, para a minha surpresa, encontrei um parceiro de dança desses raros que colorem o salão. Dançando com ele, virei bolha de sabão voadora, etérea... eterna.

Ele ousava no bailar, criava rodopios e eu me transformava em borboleta.

Como é bom ser arrebatada pela criatividade alada do outro.


Queria uma dança-delírio assim a cada lua.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Meditação e Lua

Sim, eu acredito no que disse o mestre Paramahansa Yogananda:

"Os alegres raios da alma podem ser percebidos se interiorizar a sua atenção. Você pode ter estas percepções se treinar a sua mente para apreciar o belo cenário de pensamentos no reino invisível e intangível dentro de você.

Quando você interiorizar a mente [na meditação] começará a perceber que há muito mais maravilhas no seu interior do que no exterior."
Paramahansa Yogananda em "Onde Existe Luz"


E por isso, lá fui eu para a cidade da chuva aprender a técnica de meditação da Kriya Ioga, na tentativa de um dia encontrar o Ser Divino cá dentro.


E digo a vocês, pode ser maravilhoso mergulhar no profundo de dentro. O ideal é realmente ter uma técnica ou prática que você se identifique e possa fazer com amor. Senão vira algo mecânico e sem vida.

Outro dia durante a meditação descobri que sou lua. Quando sou lua minguante ou a lua das sombras (lua nova) viro criança chorando pelo doce roubado, vítima indefesa no manto das lamentações. Achei graça, porque era como se estivesse me vendo de fora e todo aquele "drama minguante" causado pela mente era feito comédia.

Quando sou lua crescente: Ah! que sorriso branco nasce em mim! Me torno giro giro giro e danço pelas entrelinhas do momento.

Mas bom mesmo é quando consigo ser lua cheia: brota em mim a plenitude do plenilúnio. Sou rio fértil, nascente fulgurante, branco que se expande no infinito cósmico.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Nasce em mim

Quero borboletear acima do vento
Sentir o gosto do céu
Porque tem dias que é assim: só o cintilar importa.

E como queria que todas as minhas noites fossem estrelas
,
E todos os dias vôo como pétalas ao ar.

Nasce em mim um alumbramento
um alumiar da alma, um verde-terra:
a
mágica do existir.

terça-feira, 23 de março de 2010

Escrever segundo Bartolomeu


"Escrever é imprimir a experiência do espanto de estar no mundo.


É estender as dúvidas, confessar os labirintos, povoar os desertos.

E mais, escrever é dividir sobressaltos, explicitar descobertas e abrir-se ao mundo na ilusão de tocar a completude."

Bartolomeu Campos de Queiróz
em"Para Ler em Silêncio"


Sim, sim e sim as tuas palavras, Bartolomeu!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Flor de dentro



ilustração: Irisz Agocs

Joana esperava ouvir poesia de sua mãe ou quem sabe... palavras de doce de coco?


Mas da boca da mãe só saíam espinhos. E espinhos de mãe fazem sangrar o peito.

Joana, com o peito transbordando mágoas e desamor, foi pedir ajuda ao seu mestre espiritual . E ele lhe disse:

- Pare de buscar flores em terra seca. Sua mãe apenas repete o que aprendeu a ouvir.

O mestre resplandecia feito estrela. Depois de uma respiração profunda continuou:

- Tudo o que você busca está dentro de você e no entanto o seu foco está fora. Os outros não podem lhe dar aquilo que você ainda não aprendeu a se dar ou a reconhecer que existe dentro de si. Gostaria que a partir de hoje você se desse flores todos os dias.

- Flores?

- Sim. Ouça flores de sua própria boca. Inunde-se de palavras pétalas e gestos de amor todos os dias. Quando foi a última vez que fez carinho em si mesma ou disse a si uma palavra terna?

- Nem me lembro...

- E ainda assim exiges que o outro o faça.

Joana, então, foi para casa decidida a se dar flores todos os dias. No início foi bem difícil. Ela se olhava no espelho e ao dizer palavras pétalas ria de nervoso e achava que aquilo não podia ser verdade. Afinal, ela cresceu ouvindo espinhos! Como eram diferentes aquelas palavras de afeto...

Pouco a pouco, Joana foi aprendendo a se dar girassóis, lírios do campo, crisântemos, margaridas, chuvas de prata, tulipas...

E eis que um dia sentiu desabrochar a sua própria flor no peito. Era uma flor única que ela deu o nome de: céu sem fim. E com o seu "céu sem fim", já não lhe atingiam mais os espinhos da mãe e até os espinhos de outros não tinham mais importância. Joana descobriu que quanto mais regava e dava atenção a sua flor de dentro, menos era afetada pelos desequilíbrios do lado de fora.

E daquela flor de céu, ela criou um jardim interior que floresceu como o infinito...

E espalhou néctar e silêncio para outros corações abelhas que buscavam a flor.



quarta-feira, 10 de março de 2010

Sensações

Tem dias que inunda a solidão. Ela vem devagar e quando vejo já preencheu cada canto do corpo e da casa. Nesses momentos, a mente vaga por diversos estados: do por que... da vítima... da não compreensão... do apego.... e da solidão vazia. E é claro que passado alguns momentos já não agüento mais a minha própria companhia.

Então, o que faço é fechar os olhos e lembrar de todas as sensações, sons e imagens que me trazem alegria e me preenchem o peito esvaziado. E feito balão murcho que volta a ter ar (ou seria tear?), não é que melhora?

Divido algumas com vocês:

pássaro (de barriga amarela) cantando e comendo jabuticaba na varanda; mão sentindo a água fria do rio que corre (e escorre entre os dedos); sol do fim da tarde batendo nos olhos; vento dançando nos cabelos, refrescando a nuca; som de chuva que bate na terra; cheiro da terra molhada; rodopios a dois; dança entrelaçada; mergulho entre as ondas; sal no corpo; riso de criança;

eu, criança, rolando pela grama; pintura de criança com as mãos; quadrilha de festa junina; fantasia de paêtes que cintilam; pulo de carnaval; um abraço de saudade; um sorriso tímido; um beijo na bochecha; um beijo de céu; anjos; música para ninar; música que emociona, desabrocha e faz corar o rosto; palavras de outono; braços que acolhem; calor de dentro que transborda; respiro que desnuda...

UFA!!!

E mais um mergulho que eleva.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Amor Desbotado


ilustração: Irisz Agocs

Já tive amor a fogo baixo, morno. O relacionamento não era ruim mas também não era bom: era feito tinta desbotada, folha envelhecida. Na tentativa de não sentir dor, vivia um amor apagado e assim ia vivendo meio viva, meio morta.

E quem disse que amor morno também não dói?! E para que viver nos cinzas da apatia quando se tem o laranja, o vermelho e o rosa infinito?

Não ao amor apagado!

Quero Amor que me tire do chão, que me faça voar os olhos
e me encha de Sol o peito.


Vou dançar pelos fios do tempo,

Amar livre sob o ar...

Quero entrar no mar do outro

e descobrir o cintilar.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Fim


ilustração: Irisz Agocs

Mais uma vez sinto a dor do Fim.


Tem Fim que é suave: vento cantando no rosto (esses são raros).

Fim é pausa na respiração.
É tempo de rearrumar tudo por dentro.


Tem fim que desequilibra e transborda a cachoeira dos olhos. Tem fim que tira o sono e nos revira por dentro feito maremoto. Tem fim verde-lama, cinza chuvoso e até preto desbotado.

Nem sei bem a cor desse fim...

A verdade é que só quem passa por um Fim é que sabe o tamanho do grito de dentro, a profundidade do corte no peito e quanto tempo vai precisar para pintar aquela dor com uma nova cor.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Rachadura no peito

Sabe a sensação de rachadura no peito? `As vezes começa como uma fenda pequenina. E então, aquela palavra seca, aquela atitute que machuca faz a fenda crescer feito era. E quando percebe, já nem respira mais o coração.

Fenda que vira rachadura é feito flor de girassol que murcha e não mais acorda com o canto do sol. Meu coração está como terra de sertão: seco, quebradiço, cheio de cortes descompassados.

Os sentimentos de ontem escorrem pelas fendas de rachaduras tortas... E o coração vai se esvaziando daquele amor que era flor de centeio.

E resta uma dor profunda. Um vazio.

O peito fica rouco, sem canto, sem vida.

E precisa ficar só, para que com o tempo - e só com o tempo - redescubra o seu encanto.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Serenata da Lira


D. Elizabeth

No domingo passado, lá fui eu pular e dançar no bloco "Gigantes da Lira", conhecido como o bloco das crianças. E para a minha surpresa, presenciei uma cena tão bela que meu coração desabrochou feito flor do sereno. A cena foi a serenata da música "Carinhoso" para Dona Elizabeth, uma senhorinha de cabelos brancos que todo ano espera em sua janela o bloco passar. E todo o ano o bloco pára em frente a seu prédio e canta a música do Pixinguinha para ela.

Para mim o Carnaval sempre foi alegria, dança e prazer. Mas nesse ano descobri que o carnaval aqui do Rio, o carnaval das marchinhas, é também delicadeza, gesto simples de amor, aroma de flor do campo e canto de pássaro d' alma.

E para dividir com vocês esse momento de cantoria e amor que transborda, coloquei aqui dois vídeos da Serenata da Lira.

Um Carnaval repleto de alegria, peito aberto e lira para todos!




terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Busca sem fim

Tem dias que percebo dores e emoções que vem sabe-se lá de onde... E a mente fica tentando racionalizar de onde veio aquele sentir. Só que muitas vezes, a mente não sabe a resposta.

O quanto realmente nos conhecemos? E como descubro de maneira profunda quem eu sou verdadeiramente? Não falo daquele eu sou que diz que minha profissão é tal, meu nome tal, etc. Falo de um "eu sou" que está além de todas as falações da mente e de todas emoções inconscientes que vem`a tona.

Alguém sabe a resposta?


Durante anos, venho tentando me conhecer através de diversas terapias e técnicas de auto-conhecimento. E apesar disso, sinto em alguns momentos que conheço apenas partes mínimas, fragmentos de mim.

A complexidade de existir é tamanha, o mistério de ser é tanto que só me resta respirar...

A busca é infinda.

Luluca - flor e céu




Luluca chegou! De bochechas rosa flor.
Para o calor dessa Terra, ela traz flor e céu.
Luluca sorri e clareia nossos cinzas.
Até seu chorinho nos faz cantar.

Ficamos (todos) apertados em volta do berço
contemplando o seu ninar.


(Com que sonhas neném?)


Luluca é anjo
Sorriso da manhã

Borboleta que colore nossas horas

Nosso tempo
Nosso ar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sua melodia

A vaga do mar leva a dor
E traz o sorriso do homem

Me encho de cor...

Me ensina a dançar no seu balanço!

Pega na minha mão e me roda.

Me deixa tonta,
E me revela a sua melodia.

Hoje

Só posso te dizer do amor que sinto agora.
Pois amor de amanhã é como sombra da tarde, longe do sol.

Gosto desse nosso amor de meio dia: amor a pino!
No meio dia (e na meia noite) cantamos palavras de chuva

Viramos crianças do alvorecer
E nos enlaçamos feito gatos.

Para que tantos "e se..."

O nosso amor é hoje.


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Índios Fulniô



Os índios Fulniô volta e meia fazem uma visita ao espaço Rampa (na roda de cura das terças feiras). Tive o privilégio de ver e participar de alguns de seus rituais indígenas de cura: rituais de extrema beleza e vigor. Um dos índios fulniô disse que achava o homem branco mais forte que o índio, por conseguir viver no caos da cidade grande. Ele disse que não sobreviveria em uma dessas cidades.

Tento descrever aqui algumas sensações sentidas durante esses rituais indígenas:

Os pés batem cadenciados e tudo que parecia morto vibra por dentro. O canto, o chocalho e a dança fulniô transformam a sala em magia rodopiante, em sensações que não se explicam. Mas o sentir pulsa junto com os pés que batem no chão. O cheiro de ervas no ar se mistura com o canto enigmático que invade os ouvidos e consome cada sombra interna. Em um instante, o tempo suspende e só existe aquele momento: o profundo de cada um.

Os rituais dos índios fulniô me trazem vida. Não a "vida do cotidiano", muitas vezes mecânica e seca. Mas aquela vida esquecida, que deixamos de lado a cada vez que esquecemos de nós mesmos, a cada vez que vamos deixando os sonhos de lado: a vida do coração.