quarta-feira, 17 de março de 2010

Flor de dentro



ilustração: Irisz Agocs

Joana esperava ouvir poesia de sua mãe ou quem sabe... palavras de doce de coco?


Mas da boca da mãe só saíam espinhos. E espinhos de mãe fazem sangrar o peito.

Joana, com o peito transbordando mágoas e desamor, foi pedir ajuda ao seu mestre espiritual . E ele lhe disse:

- Pare de buscar flores em terra seca. Sua mãe apenas repete o que aprendeu a ouvir.

O mestre resplandecia feito estrela. Depois de uma respiração profunda continuou:

- Tudo o que você busca está dentro de você e no entanto o seu foco está fora. Os outros não podem lhe dar aquilo que você ainda não aprendeu a se dar ou a reconhecer que existe dentro de si. Gostaria que a partir de hoje você se desse flores todos os dias.

- Flores?

- Sim. Ouça flores de sua própria boca. Inunde-se de palavras pétalas e gestos de amor todos os dias. Quando foi a última vez que fez carinho em si mesma ou disse a si uma palavra terna?

- Nem me lembro...

- E ainda assim exiges que o outro o faça.

Joana, então, foi para casa decidida a se dar flores todos os dias. No início foi bem difícil. Ela se olhava no espelho e ao dizer palavras pétalas ria de nervoso e achava que aquilo não podia ser verdade. Afinal, ela cresceu ouvindo espinhos! Como eram diferentes aquelas palavras de afeto...

Pouco a pouco, Joana foi aprendendo a se dar girassóis, lírios do campo, crisântemos, margaridas, chuvas de prata, tulipas...

E eis que um dia sentiu desabrochar a sua própria flor no peito. Era uma flor única que ela deu o nome de: céu sem fim. E com o seu "céu sem fim", já não lhe atingiam mais os espinhos da mãe e até os espinhos de outros não tinham mais importância. Joana descobriu que quanto mais regava e dava atenção a sua flor de dentro, menos era afetada pelos desequilíbrios do lado de fora.

E daquela flor de céu, ela criou um jardim interior que floresceu como o infinito...

E espalhou néctar e silêncio para outros corações abelhas que buscavam a flor.



Um comentário:

Raphael Lima disse...

na boa,

miuto BOM!

é o que preciso fazer da minha vida!

abraço de polém pra ti!