quarta-feira, 30 de junho de 2010

Alegria



Que eu possa ser Sorriso entre olhares cabisbaixos,
Canto de pássaro amarelo que alegra a manhã cinza,
Dança que diz: sim! Sente a vida dentro e fora,
As cores quentes e verdes da feira,
Mão que acaricia,
Palavra com sabor de jabuticaba.


No medo, na dor,
na tristeza... na escuridão,
Que eu possa ser flores que aliviam a alma,
Nuvem que abraça o verso,
Brisa que levanta o ânimo e susurra: alegria!

Que eu possa ser amor de céu em pequenos gestos,
Risada presente que contagia,
Júbilo infinito que alumia.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Adolescente em festa



Nas festas, depois dos jogos do Brasil (na Copa do Mundo) eis que ressurge a minha adolescente, que há tempos andava adormecida. Porque essa minha adolescente era pura emoção e alegria nas festas. E ela lembrou-se de Copas do Mundo e festividades passadas e despertou. Algumas pessoas próximas reclamavam e diziam que aquele mesmo lugar já havia sido melhor, porque quando eu era mais "nova" isso, aquilo e aquilo outro...


Mas a minha adolescente nem deu ouvidos:

E cantou para a lua cheia que iluminava seus cabelos; dançou o samba que se formou no meio da rua, cheio de tumulto, instrumentos e sons inesperados (o trompete foi para ela a sensação da noite); sentiu a alegria de tanta gente e sorriu branco como a lua; sentiu a criatividade daquelas pessoas cheias de melodia na alma e dança colorida no pé; regojizou-se nos pulos e cantar dos outros; percebeu as blusas amarelas perdidas nos verdes e abraçou aqueles que abraçavam o momento.

Essa adolescente, cheia de intensidade, livre, espontânea, vive os momentos de festa com leveza e êxtase, sem o pesar do tempo...

Ela sabe que os ventos permanecem na Terra enquanto a gente se esvai num respiro incerto.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Avesso

Não e não! Ela não iria deixar de viver os seus sonhos para "se adequar" a sociedade. Preferia a autenticidade dos artistas, a originalidade das crianças e a fé dos santos mesmo quando a chamavam de louca.

Preferia andar pelas frestas e sombras buscando o avesso ao invés de seguir o "caminho comum" feito ovelha. Sabia que seria difícil para a família, pois seria vista como excêntrica. Mas não tinha jeito, nada dessas promessas do mundo externo a seduziam mais. Aprendera a viver no momento e por isso sentia-se fora do mundo.


Tinha encontrado o sorriso real (aquele que independe de circunstâncias externas) e por isso acolhia o tear da vida e cantarolava, espalhando sua fragância alegre independente do tempo, dos humores alheios e dos tons do dia.

Sentir... sem pensar



Ela queria dizer-lhe da intensidade de seus sentimentos. Mas havia aprendido a conter as suas pulsões. Ensinaram-na, quando pequena, que sentir era arriscado. Pois bem! Tentava esconder-se de si mesma.

Uma noite, sentada ao seu lado ferveu por dentro - feito panela de pressão - e não podendo mais conter a ressaca, tascou-lhe um beijo perto dos lábios.

E enrubesceu.


Ele, surpreso, convidou-a para dançar.
Dançaram sem por quês, sem amanhãs.


Entregaram-se aos entrelaces das pernas, aos gestos suaves dos braços, aos movimentos redondos e firmes... e aos desejos contidos que se expressavam na dança.


Ele sentia o contato com o corpo dela e percebia a sua nuca nos segundos em que os cabelos esvoaçavam.

Ela sentia o seu cheiro, o seu rosto e não conseguia conter o tremor que lhe percorria o corpo.

Uma pausa na música a fez subir uma das pernas até os quadris dele e ele furtivamente beijou-a, sem dar espaço ao pensar.

Perderam-se na intensidade do momento.

E assim, sem pensar, deixaram-se levar pela música, pelo fluir da dança e pelo sentir que emanava feito arco-íris de mil pétalas.

Pintura: Drue Kataoka

terça-feira, 8 de junho de 2010

Margarida

Julia queria dizer-lhe o quanto era vidro de cristal.
Não chegue tão perto! Posso quebrar...
Ou seria ela areia que escorre entre os dedos?

Queria perder-se no céu de seus olhos,
mas receava deixar as margaridas.

As margaridas traziam-lhe o alívio do branco.

E no entanto, não era o branco todas as cores?

Ele era fulgor alumiando a noite.
Ela, margarida.

Deitou-se ao seu lado
e coloriu o seu branco.

Mãe Divina

És Melodia das nuvens
Bater de asas de pássaro
Suspiro que me arrepia

Sol que me acende,

Derrama-se sobre mim
Inunda-me em seu vôo interno

Lírio,
faz de mim o seu néctar
Deixa-me ser o seu Sorriso
a cintilar sobre as sombras do mundo.