segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Carta a minha mãe


Mãe,


Você quase foi embora. Quase deixou esse seu jardim de flores e heras ressacadas. Eu sei, você não queria mais um jardim morto e chorava por um recomeço. E eu choro junto mãe. O seu pranto é o meu pranto. Sempre enxerguei a sua dor.


Na sua ausência, mãe, me vi criança novamente. As memórias voltam como um rio: meu irmão e eu, crianças, correndo na praia ao seu redor, os nossos pulos em cima da cama, as nossas brigas que te tiravam do sério, as viagens de carro enrolados no edredon, as brincadeiras cheias de gritos e cantoria.

Eu não sei bem se você já voltou mãe. Te sinto frágil entre homens de branco e uma família entristecida.
Será que você volta?
Onde você está?


Sei o quanto a vida aqui era escura para você. Nem mesmo o verde e as flores (que você tanto ama) eram capazes de trazer o seu sorriso.

Sinto você criança. Sinto você em outro mar. E quem sabe? O mar do seu mundo pode ser mais turquesa que o nosso. Quem sabe esse mar não te ajude a ver o azul?


E o Sol mãe. Como queria que você pudesse sentir o Sol junto comigo.

Mãe, aonde quer que esteja sente o meu amor,
sente o nosso amor por você.

É ele que traz cor a vida.
Sente, mãe.

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