terça-feira, 24 de novembro de 2009

A fala encantada de Bartolomeu



Acabo de conhecer hoje, ao vivo, Bartolomeu Campos de Queirós. Sim! Ele mesmo - o autor que nos desperta a sutileza da alma - estava na Biblioteca Nacional falando sobre a literatura que "nos tira do prumo" (palavras do próprio).

Ah! Quanta fragância tem também as palavras faladas de Bartolomeu! Sua literatura me deixa do avesso por dentro e tira o prumo de qualquer um que ouse senti-la de perto.

Quando Bartolomeu começava a falar, o auditório mergulhava num silêncio profundo: ninguém queria perder o gosto arco íris de suas palavras. Confesso que fiquei perplexa em perceber que mesmo falando o autor canta poesia. Ele é como um pássaro que acorda o sol. Suas palavras e voz suave nos levam a um estado de tanta inspiração, que saímos do auditório enxergando só o encantamento do mundo.

Transcrevo aqui falas de Bartolomeu, pérolas que me embriagaram de beleza e fragilidade em mais um dia azul:

"Para desenhar há de se ter a liberdade do gesto.
Meu gesto é muito contido. Por isso escrevo. É a palavra que me encanta."

"Não gosto do explícito. Gosto do mistério. A metáfora esconde o escritor."


"Escrever também demanda liberdade. É a literatura reflexiva e de consumo interno que me tira do prumo, é essa que me encarna e é dessa que quero falar. O Brasil Literário procura esse leitor que busca poesia e beleza na palavra"

"A vida não deixa ninguém analfabeto. A leitura da escola, a do alfabeto é só mais uma leitura. Todo mundo já entra na escola sabendo ler."

"A literatura lida demanda trabalho.`As vezes, um livro desperta a dor."

"O leitor se encontra na literatura quando lê um texto que o conecta com sua fantasia mais profunda."

"O livro escuta o leitor o tempo inteiro. Ele pode tocar as nossas verdades mais profundas. Com um livro do lado, você nunca está sozinho. Não existe solidão."

"O texto só pode ser literário quando sai da linguagem do cotidiano e do lugar comum. Reduzir a arte a um destinatário, enfraquece a arte. "

"Temos que parar com essa idéia de que a educação nos deixa fortes. Quem tem educação é mais frágil. Muito frágil."

Sobre como surgiu a idéia de seu último livro "Tempo de Vôo":



"Um dia estava debruçado na janela e me deu uma saudade imensa do mundo. Me senti velho. Há um determinado momento em que o mundo fica distante de você. Eu senti na pele a saudade do mundo. E o texto [Tempo de Vôo] surgiu disso. Tem hora que dói na pele, que queima. A consciência da saudade do mundo é que cria o livro."

"É muito interessante, né? Você transforma a dor [da saudade] na alegria [de escrever]. Viver é um ato extremamente escandaloso."

2 comentários:

Raphael Lima disse...

quem bom bom!
ler isso antes de dormir, essa é uma nutrição para os meus sonhos...

beijos e alegria!

Raphael Lima disse...

á! tu é de sagitário... quando? o meu aniversário é dia doze de dezembro... enfim... parabéns atrasado ou adiantado!