quarta-feira, 24 de março de 2010

Nasce em mim

Quero borboletear acima do vento
Sentir o gosto do céu
Porque tem dias que é assim: só o cintilar importa.

E como queria que todas as minhas noites fossem estrelas
,
E todos os dias vôo como pétalas ao ar.

Nasce em mim um alumbramento
um alumiar da alma, um verde-terra:
a
mágica do existir.

terça-feira, 23 de março de 2010

Escrever segundo Bartolomeu


"Escrever é imprimir a experiência do espanto de estar no mundo.


É estender as dúvidas, confessar os labirintos, povoar os desertos.

E mais, escrever é dividir sobressaltos, explicitar descobertas e abrir-se ao mundo na ilusão de tocar a completude."

Bartolomeu Campos de Queiróz
em"Para Ler em Silêncio"


Sim, sim e sim as tuas palavras, Bartolomeu!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Flor de dentro



ilustração: Irisz Agocs

Joana esperava ouvir poesia de sua mãe ou quem sabe... palavras de doce de coco?


Mas da boca da mãe só saíam espinhos. E espinhos de mãe fazem sangrar o peito.

Joana, com o peito transbordando mágoas e desamor, foi pedir ajuda ao seu mestre espiritual . E ele lhe disse:

- Pare de buscar flores em terra seca. Sua mãe apenas repete o que aprendeu a ouvir.

O mestre resplandecia feito estrela. Depois de uma respiração profunda continuou:

- Tudo o que você busca está dentro de você e no entanto o seu foco está fora. Os outros não podem lhe dar aquilo que você ainda não aprendeu a se dar ou a reconhecer que existe dentro de si. Gostaria que a partir de hoje você se desse flores todos os dias.

- Flores?

- Sim. Ouça flores de sua própria boca. Inunde-se de palavras pétalas e gestos de amor todos os dias. Quando foi a última vez que fez carinho em si mesma ou disse a si uma palavra terna?

- Nem me lembro...

- E ainda assim exiges que o outro o faça.

Joana, então, foi para casa decidida a se dar flores todos os dias. No início foi bem difícil. Ela se olhava no espelho e ao dizer palavras pétalas ria de nervoso e achava que aquilo não podia ser verdade. Afinal, ela cresceu ouvindo espinhos! Como eram diferentes aquelas palavras de afeto...

Pouco a pouco, Joana foi aprendendo a se dar girassóis, lírios do campo, crisântemos, margaridas, chuvas de prata, tulipas...

E eis que um dia sentiu desabrochar a sua própria flor no peito. Era uma flor única que ela deu o nome de: céu sem fim. E com o seu "céu sem fim", já não lhe atingiam mais os espinhos da mãe e até os espinhos de outros não tinham mais importância. Joana descobriu que quanto mais regava e dava atenção a sua flor de dentro, menos era afetada pelos desequilíbrios do lado de fora.

E daquela flor de céu, ela criou um jardim interior que floresceu como o infinito...

E espalhou néctar e silêncio para outros corações abelhas que buscavam a flor.



quarta-feira, 10 de março de 2010

Sensações

Tem dias que inunda a solidão. Ela vem devagar e quando vejo já preencheu cada canto do corpo e da casa. Nesses momentos, a mente vaga por diversos estados: do por que... da vítima... da não compreensão... do apego.... e da solidão vazia. E é claro que passado alguns momentos já não agüento mais a minha própria companhia.

Então, o que faço é fechar os olhos e lembrar de todas as sensações, sons e imagens que me trazem alegria e me preenchem o peito esvaziado. E feito balão murcho que volta a ter ar (ou seria tear?), não é que melhora?

Divido algumas com vocês:

pássaro (de barriga amarela) cantando e comendo jabuticaba na varanda; mão sentindo a água fria do rio que corre (e escorre entre os dedos); sol do fim da tarde batendo nos olhos; vento dançando nos cabelos, refrescando a nuca; som de chuva que bate na terra; cheiro da terra molhada; rodopios a dois; dança entrelaçada; mergulho entre as ondas; sal no corpo; riso de criança;

eu, criança, rolando pela grama; pintura de criança com as mãos; quadrilha de festa junina; fantasia de paêtes que cintilam; pulo de carnaval; um abraço de saudade; um sorriso tímido; um beijo na bochecha; um beijo de céu; anjos; música para ninar; música que emociona, desabrocha e faz corar o rosto; palavras de outono; braços que acolhem; calor de dentro que transborda; respiro que desnuda...

UFA!!!

E mais um mergulho que eleva.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Amor Desbotado


ilustração: Irisz Agocs

Já tive amor a fogo baixo, morno. O relacionamento não era ruim mas também não era bom: era feito tinta desbotada, folha envelhecida. Na tentativa de não sentir dor, vivia um amor apagado e assim ia vivendo meio viva, meio morta.

E quem disse que amor morno também não dói?! E para que viver nos cinzas da apatia quando se tem o laranja, o vermelho e o rosa infinito?

Não ao amor apagado!

Quero Amor que me tire do chão, que me faça voar os olhos
e me encha de Sol o peito.


Vou dançar pelos fios do tempo,

Amar livre sob o ar...

Quero entrar no mar do outro

e descobrir o cintilar.